A mudança

Essa história aconteceu com alguns amigos meus já há alguns anos. Eles decidiram se mudar, abandonar os laços maternos e bater suas asas longe do ninho. É claro que escolheram outra cidade para morar. Buscaram um apartamento e locaram diretamente com a proprietária, uma advogada, que ao apertar as mãos dos jovens inquilinos, um deles fez a piadinha do “Deus lhe pague” referindo-se ao aluguel e de pronto ouviu da locatária que “mas é o Diabo que vai cobrar, viu.” Talvez aquilo tenha sido um primeiro aviso. Chegou então a hora da mudança. Como tudo tem que dar certo sempre, com o caminhão do pai de um desses meus amigos já carregado com toda sorte de móveis velhos e inservíveis de todos os cantos possíveis, incluindo um fogão, gentilmente doado por outro pai, começa a chover. Os jovens destemidos têm então a brilhante ideia de colocar uma lona por sobre os móveis e amarrar os cantos na carroceria do caminhão. A lona preta obviamente se desprendeu nos primeiros metros. Novamente em mais um assombroso ataque de raciocínio lógico, os meninos decidiram enfrentar o caminho da mudança de aproximados 100 quilômetros na carroceria do caminhão para, sentados no sofá que estava preso sobre ele, segurarem a lona, evitando assim que toda a mobília se estragasse na viagem com chuva. Os primeiros metros foram tranqüilos, e ambos conversavam alegremente e se divertiam, vangloriando-se em como eram inteligentes e como viajariam confortáveis no sofá. Acontece que quando o caminhão começou a ganhar velocidade na estrada, a força do vento começou a agir contra a lona que parecia então pesar uma tonelada, na tentativa desesperada de segurar a lona, a mesma se rasgou e formou pontas que açoitavam os pobres aventureiros nas costas, nas pernas, no rosto e onde mais poderia bater. A alegria e tranqüilidade da viagem se transformou em gritos de dor e também de medo, pois o caminhão parecia estar a 240 km/h e a estabilidade do assento deles não era muito confiável. Com 12 quilômetros percorridos, o motorista do caminhão, que também era o pai de um dos meninos, resolver parar para ver se estava tudo bem. Ambos imaginaram que já haviam percorrido a distância da Terra à Lua. Molhados, doloridos e cansados, eles se renderam ao conforto da cabine do caminhão. A chuva misteriosamente parou, como se gozasse da cara deles. A chegada ao destino foi tranqüila, descarregar os móveis é que foi o problema. Lembrem-se crianças, nunca alugue um apartamento no quarto andar de um prédio sem elevador se for você mesmo que carregará os móveis, principalmente quando se tem máquina de lavar e uma geladeira de duas toneladas cada. Depois de tudo carregado, instalado, montado, nossos heróis estavam sozinhos na casa nova, inspirando liberdade, sem pai e nem mãe para alimenta-los ou limpar qualquer bagunça. Todos que tinham ajudado na mudança já haviam partido e sobrara apenas a fome. Decidiram então comprar alguma comida e prepara-la eles mesmos, nada de pedir pronto, pois qual a graça de morar fora se não cozinhar? Escolheram uma pizza pronta, contrariando tudo o que se pode chamar de “preparar o jantar.” Tudo o que eles precisavam era acender o forno do fogão, aquele gentilmente doado, lembram. Depois de algumas tentativas frustradas e uma análise mais criteriosa, descobriram que o fogão não possuía mais o encanamento de gás até o forno. Com fome, sem ter o que comer, eles passaram a primeira noite em sua casa esquentando pizza na frigideira e comendo partes quentes e partes frias de uma pizza pronta de caixinha. Foi uma mudança inusitada, mas me parece ter sido muito divertida!

PS: Esta é uma história totalmente fictícia e qualquer semelhança com fatos verídicos é mera coincidência!

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