Conto de Carnaval

Edgard namorava com Raquel já há seis meses. Qualquer suspiro era motivo de sorriso e o simples vento que esvoaçava de leve os belos cabelos castanhos dela o faziam delirar de emoção. Ele estava apaixonado e sabia que ela era a mulher de sua vida, que passaria todas as manhãs contemplando seus olhos verdes ao acordar. Já Raquel era uma mulher mais independente e queria viver um pouco mais a vida, curtir.
Na semana do carnaval eles planejaram uma viagem até Balneário Camboriú, no litoral catarinense, Edgard estava ansioso, seria o primeiro final de semana dos dois sozinhos, longe de família, amigos, trabalho e estresses do dia a dia. Ele tinha plena convicção que ali ele a convenceria que era ao seu lado que ela seria feliz. O anel estava em seu bolso, o pedido ia ser feito na noite de carnaval, de segunda para terça, na orla, com a lua abençoando a união dos dois. Esta pelo menos era a imagem mental que Edgard tinha da coisa toda.
Chegaram lá na sexta à noite, depois de uma viagem complicada e congestionada. O fim de semana correu muito bem e dentro do planejado de Edgard, com passeios, romances, aventuras, banhos de mar e muita diversão, o mais lindo sorriso do mundo não saia do rosto de Raquel, ela parecia se divertir muito com a viagem.
Na segunda, acordaram mais tarde depois da farra de domingo e descasaram o dia todo, já se preparando para a festa da noite. Chegando no clube, camarote que acabou com as economias do Edgard, champanhe, vodca, luzes piscando, luzes acendendo, luzes, luzes... Raquel começou a dançar com um rapaz que também estava no camarote. Luzes. Edgard já tinha exagerado no álcool vendo aquela cena. Luzes. A próxima luz que ele viu não era mais de camarote, nem de carnaval, mas sim de um trem vindo em um túnel em sua direção quando Raquel o chamou pra fora do lugar e disse que precisavam conversar.
Ela então falou que aqueles foram dias maravilhosos e que era uma ótima maneira deles se despedirem, que ela ficaria com todas as lembranças boas do relacionamento, mas que não dava mais pra ela e que iria embora com o rapaz que estava dançando, não voltaria ao hotel deles e pegaria um avião de volta para casa, para não passar pelo constrangimento da viagem de volta junto com ele.
Quase que instantaneamente a cabeça de Edgard começou a recobrar a consciência, ele queria que o trem fosse de verdade e que o tivesse matado, procurou no bolso e o anel ainda estava lá. Seus olhos não puderam conter as lágrimas. Ele não disse uma palavra e Raquel se foi, mas não sem antes beijar-lhe carinhosamente o rosto. Ele a via caminhando de volta para a boate e naquele segundo o coração dele parou. Entrou no seu carro e começou a dirigir pela orla, pelo local ele planejara pedir a mão dela em casamento. A chuva começou a cair, de leve, molhando os vidros do carro, o limpador de para-brisas parecia gemer junto com a dor dele e no rádio começou a tocar uma música que ele jamais esqueceria e que até hoje, mais de 10 anos depois, ele ainda lembra daquele rosto, daquele sorriso, daqueles olhos verdes e daqueles lindos cabelos castanhos ao escuta-la.

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