"Pequenices"

“Pequenices” de uma cidade grande. 
Andando pelas ruas de uma cidade grande e conhecida, fiquei pensado que pra mim é uma cidade desconhecida, não moro aqui, não conheço o dono da padaria da esquina, o farmacêutico e nem o carteiro. Passei então a refletir sobre o tamanho da cidade. Será que estou em uma grande cidade? Vi uma garotinha no ponto de ônibus, devia ter uns 10 anos de idade, com uniforme escolar esperando a condução para retornar a sua casa. Pensei: isso não existe em uma cidade grande, uma criança andar sozinha em um coletivo é coisa de cidade pequena. Mais à frente, vejo um mendigo revirando o lixo em frente a uma loja e comendo os restos que ali estavam, era perto de cinco da tarde e provavelmente aquela era a primeira e única refeição dele no dia. Numa cidade grande, todas as pessoas deveriam ter oportunidades, se falta espaço para ele exercer sua cidadania e viver com dignidade, é uma cidade pequena. Enquanto o homem remexia o lixo, vi uma jovem bonita, andando em direção onde ele estava, ao avistá-lo, ela esboçou uma reação de medo (ou seria desprezo) e simplesmente atravessou a rua. Na cabeça daquela jovem, a cidade não a comporta e aquele infeliz, a cidade é pequena demais para os dois ao mesmo tempo. Olho em minha volta e vejo os carros. Quantos carros! De diversos modelos, mas não de muitas cores, parece que as pessoas não gostam mais de cores, a maioria é de cor preta ou prata, numa reedição melancólica de tempos onde não existiam cores, parece que estou assistindo a uma televisão antiga. Um motorista xinga e buzina, outro tenta estacionar, forma-se um congestionamento no semáforo fechado. Ora, se a cidade não tem lugar nem para os seus carros, não pode ser considerada uma cidade grande. As pessoas parecem estressadas, estão todos de cara fechada, arrisco um ‘boa tarde’ a um homem, recebo uma expressão de espanto em retribuição. Parece que também não há espaço para cordialidade na cidade. Chego então à conclusão que não estou em uma cidade grande, mas sim em uma cidade minúscula. Tenho certeza que meu pensamento é compartilhado com a garotinha esperando o ônibus, com o homem que não consegue se alimentar dignamente, com a moça bonita e seu medo, com o motorista sem vaga para estacionar e até mesmo com aquele senhor estressado, esquecido do poder de um simples cumprimento. Minha esperança é que nessa pequena cidade, ainda haja espaço para o amor dentro das famílias. Que cada casa seja uma cidade enorme, onde os filhos tenham espaço para dialogar com seus pais e onde um bom dia ao vizinho seja retribuído ao menos com um sorriso, assim, acho que o tamanho da sua cidade é simplesmente o tamanho do seu coração

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