O dia que coloquei fogo em casa

Morar em república não é fácil, mas é algo que constrói sua personalidade e o molda como pessoa. Crescemos muito morando longe dos pais, se virando, passando por dificuldades e problemas. Após uma trágica mudança que fizemos, tudo parecia correr bem na nossa república, alguns integrantes estudavam, outros trabalhavam, as vizinhas do prédio em frente trocavam de roupa despudoradamente em frente às janelas enormes de vidro e a vida seguia.

Um belo dia, nós estávamos em casa tranquilos, fazendo uma limpeza (mentira, jogando algum joguinho no PC) e de repente alguém percebeu a formação de uma casa de marimbondos na janela do quarto. Era um precedente perigoso que poderia resultar em algum acidente, talvez menor do que de fato ocorreu. Em um ato de extrema inteligência e habilidade, tive a brilhante ideia de espantar as abelhas e derrubar a casa delas utilizando-se de chamas, afinal, sempre ouvimos que os bombeiros espantam abelhas com fumaça, peguei um pedaço de jornal e ateei fogo nele, indo até a janela. A empreitada foi um sucesso, com os insetos indo embora e a colmeia caindo. Porém antes de eu ter tempo de comemorar surgiu um pequeno problema: o fogo não apagou do jornal e em instantes virou uma enorme labareda na minha mão! Do alto da minha extrema habilidade e astúcia, joguei o jornal flamejante no chão do apartamento. O detalhe é que o piso era em madeira e havia sido recém reformado pela proprietária e antes da mudança houve milhares de recomendações quanto ao cuidado necessário com aquele piso. Fogo com madeira não é uma combinação muito boa para dentro de um apartamento e em um ato heroico e desesperado eu chutei a bola de fogo pelo corredor, mesmo tendo um balde com água ao meu lado, já que deveríamos estar limpando o imóvel. Enquanto o jornal em chamas percorria o chão de madeira em uma altura quase inacreditável (juro que vi fuligem no teto depois disso), Os outros moradores já temiam pelo pior e apelaram para algumas orações pelas nossas almas, acho até que tinha um terço na mão de algum deles nesse momento. Alguns instantes após umas pisadas e outros tipos de atitudes insensatas, o fogo se extinguiu. A cicatriz no piso ficou lá e deve estar até hoje. Realmente não dá pra acreditar como um acidente mais grave não aconteceu naquele lugar. Pelo menos a fumaça não danificou a integridade dos vidros e continuamos a ver as vizinhas do prédio ao lado por todo o tempo que moramos ali.