Natasha

Natasha e Sérgio haviam se conhecido numa festa à fantasia em um hotel de luxo, a beira mar, na cidade de Balneário Camboriú. Sérgio estava com sua fantasia de Batman e a coincidência fez com que Natasha estivesse com a sua de Mulher Gato. Começaram a conversar por conta das fantasias, mas logo sentiram uma afinidade fora do comum entre eles. Ambos de máscaras e com muita vodca à disposição, logo estavam se beijando. As apresentações formais ficaram para a manhã do dia seguinte, no quarto de Sérgio, com as fantasias jogadas pelo chão. Foi só aí que souberam o nome um do outro. O que Sérgio não poderia imaginar é que Natasha ainda usava máscara, não a de Mulher Gato, mas a de mulher misteriosa que a partir daquele momento transformaria a vida dele para sempre.
Natasha era uma mulher muito bonita, 26 anos, tinha a pele morena, uma estatura acima da média para as mulheres brasileiras e um corpo de fazer inveja a muitas modelos de revistas masculinas. Ela sabia de seus dotes físicos e usava isso em seu favor. Já Sérgio era um empresário bem sucedido que mesmo aos 35 anos nunca havia se casado, dedicava sua vida aos seus negócios e cuidava bem de si mesmo, era um homem bonito que gostava de baladas caras e se orgulhava de suas conquistas noite após noite. Para ele, Natasha seria apenas mais uma dessas conquistas. No íntimo do seu coração, Sérgio queria encontrar alguém especial e sossegar, mas ele não conseguia confiar em ninguém desde a adolescência, quando teve seu coração despedaçado. A cada conquista, ele se perguntava: Seria essa? Com Natasha as coisas aconteceram um pouco diferente do que ele estava acostumado.
Na manhã seguinte a festa, ao acordarem e finalmente se conhecerem, fumavam na varanda e Natasha revelou seus planos frustrados de viajar para a Europa no mês seguinte, pois estava sem condições financeiras, já que perdera o emprego recentemente. Teria que vender as passagens. Sérgio se surpreendeu, pois estava com viagem marcada para a mesma data dela. Ele se ofereceu para pagar as despesas dela e viajariam como um casal, já que ela já tinha as passagens. Até aquele momento, o destino parecia unir os dois. As fantasias que combinaram, as afinidades, o sexo que havia sido incrível e até mesmo a viagem na mesma data. Com os dias se passando, Sérgio começou a perceber que Natasha poderia ser a sua escolhida. Ambos voltaram para Joinville, onde moravam – em mais uma das coincidências malucas que envolviam os dois – e começaram a namorar. Saíam todos os dias, tomavam vinho, passeavam de mãos dadas pela cidade e Natasha começou a trabalhar na empresa de Sérgio.
A relação de ambos tornou-se muito séria com a ida para a Europa. Sérgio enchia Natasha de presentes caros, jóias, roupas de grife e jantares nababescos na Toscana. Ele notou que nunca estivera tão apaixonado por alguém em toda sua vida e decidiu pedi-la em casamento mesmo tendo passados apenas 43 dias daquela noite do baile a fantasia. O pedido foi feito em Paris, em frente à torre Eiffel. Ela aceitou e voltaram para o Brasil para começar os preparativos.
O que Sérgio não fazia ideia era que Natasha não era Natasha. Ela nunca contava nada sobre sua vida, sua família, seu passado. Apenas o ouvia e acariciava o ego dele com sua beleza. Ela sabia como ninguém se esconder em sua máscara. Ele, cego de paixão, deixou ela comandar parte de suas empresas, enquanto ele apenas fazia coisas para agrada-la, alugou casa de festas, contratou banda e preparou o maior casamento que o estado de Santa Catarina jamais havia visto. Ela apenas desviava dinheiro dele para paraísos fiscais.
No dia do casamento, Sérgio notou que os lugares reservados para a família dela estavam vagos, eram poucos convites, enviados aos endereços que ela forneceu, mas ninguém havia comparecido. Chegou a hora marcada e toda a sociedade catarinense estava lá para testemunhar o que se tornaria a humilhação de um homem. Natasha não compareceu. Deixou um bilhete onde contava que ela na verdade não se chamava Natasha e que havia estudado Sérgio há meses. Sabia de suas empresas, sabia onde ele morava, que ele estaria no hotel na noite do baile a fantasia, que ele havia comprado a fantasia de Batman e sabia também da sua viagem para a Europa. Nada era coincidência, mas sim obra da mente de uma mulher que vivia de enganar pobres homens ricos e tirar-lhes dinheiro. No bilhete ela ainda diz que a soma total desviada era de dois milhões de reais e que com sorte ele se recuperaria do prejuízo em pouco tempo. No verso do bilhete ela então confessa que só escrevera tudo aquilo por que havia se apaixonado por ele. Conta seu nome verdadeiro, Ana Paula, e diz que se um dia ele puder perdoa-la do que fez, ela estaria aberta a casar-se de verdade com ele.
Sérgio chorou como uma criança e expulsou todos do casamento, como não poderia deixar de acontecer, começou a chover. Ele chorava e a chuva caía em seus ombros. A única pergunta que lhe vinha na mente era: Por quê?
Ele jurou nunca mais se apaixonar, porém seis meses se passaram desde a última vez que Sérgio tinha visto Natasha e ele não conseguia esquecer aqueles olhos castanhos e aqueles longos cabelos negros como a noite. Ele não acredita mais em coincidências e nem em mulher alguma. Só lhe resta procurar na noite, em bailes de máscaras e em copos de vodca alguém para quem sabe revirar sua vida novamente.

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